
Quando a sociedade pensa no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma das primeiras imagens que vem à mente é a de jovens estudantes na fase de conclusão do Ensino Médio, com grandes expectativas de ingressar na universidade e conquistar uma formação profissional. O que muita gente não sabe é que pessoas mais velhas também podem fazer a prova, como é o caso de um grupo de colegas do bairro de Cajazeiras, em Salvador, que acredita que nunca é tarde para sonhar, e vai fazer o Enem neste ano.
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Alunos da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Estadual Dona Mora Guimarães voltaram a acreditar em si a partir dos estudos. Cada um tem a sua trajetória e quase todos enfrentaram muitas dificuldades na infância, perdendo a oportunidade de se formar na idade adequada. Mesmo diante da inexperiência quando o assunto é o Enem, esses estudantes do EJA são ‘graduados’ na sabedoria da vida e estão decididos a escrever um novo capítulo da própria história.
Força de vontade e apoio familiar são combustíveis

Dona Célia Maria de Jesus, de 61 anos, resolveu voltar a estudar para “ocupar a mente” e conseguir concluir o ciclo escolar, pois não teve essa chance durante a infância. “Quando eu era criança, eu estudei até o primário, até o segundo ano, e só aprendi só o meu nome. Agora voltei a estudar”, contou.
A decisão de prestar o Enem surgiu da vontade de se formar e ter conhecimento suficiente para trabalhar de forma autônoma. Mãe de três filhas, ela contou que o maior sonho da vida dela era vencer o analfabetismo: “Estudar, ler e entender. Não precisar escrever uma coisa e a pessoa ter que ler para mim”.
Assim como a colega de classe, José Henrique Santos de Aguiar, de 59 anos, também enxergou no vestibular o caminho para seguir a carreira do coração. Ele quer cursar engenharia civil e está seguindo cada passo em direção a seu objetivo, com muita tranquilidade.

“Para você trabalhar, você tem que fazer uma faculdade, e para você fazer a faculdade, você tem que fazer o Enem primeiro”, pontuou.
O morador de Cajacity conta com o apoio da família para encontrar ainda mais motivação nos estudos. “Minha irmã está apoiando, meus irmãos, todo mundo está apoiando! Minha irmã está amando, está gostando muito, ela ficou feliz da vida quando viu minha camisa [da escola]”, declarou ele.

Orgulho para a filha adolescente
Mãe de Rebeca, Roberto e avó da pequena Maitê, dona Maria Dinalva Oliveira de Souza, de 47 anos, tem um grande amor pelos familiares e quer dar orgulho para a filha caçula, que é adolescente e também vai fazer o Enem pela primeira vez neste fim de semana.

“É muito bom estudar, meu sonho é estudar. Minha filha já me ajuda muito, sempre, principalmente naquela parte difícil da leitura que eu tenho que pegar. Agora eu só tem um pouco de matemática, que eu estou um pouquinho fraca ainda”, falou ela.
Maria Dinalva comemorou o fato de escrever o próprio nome. Algo que parece simples para a população alfabetizada é uma conquista gigantesca para quem não completou o ensino fundamental. A alegria em superar essas barreiras e poder compreender o mundo através da leitura é imensurável.
“Eu já sei fazer meu nome, porque antigamente eu não fazia. Cheguei aqui do interior pra cá, aí eu casei, não tinha alfabetizado e não sabia ler nem escrever, nem o nome eu sabia fazer, mas depois fui aprendendo um pouquinho com as pessoas que eu já trabalhei, então eu fui andando, engatinhando e engatinhando, e hoje eu tô aqui”, relembrou.
Professora elogia Aulão Prepara ENEM

Célia Maria, José Henrique e Maria Dinalva marcaram presença no Aulão Prepara ENEM, realizado na tarde de quinta-feira (6), na Arena A TARDE, em Salvador. A iniciativa foi promovida pelo Governo do Estado e reuniu alunos da rede estadual baiana para reforçar os conhecimentos antes da prova e relembrar os principais assuntos do exame.
A professora Marta Lima, que leciona no Colégio Estadual Dona Mora Guimarães e trabalha com turmas do EJA, acompanhou os alunos durante toda a tarde de revisão. Ela refletiu sobre a importância de iniciativas como o aulão gratuito e falou sobre o potencial que os mais velhos também possuem.
“A gente sabe que eles têm diversas dificuldades, principalmente que a maioria trabalha durante o dia, estuda à noite, mas o mais importante disso tudo é a gente saber que a gente dá oportunidade para eles realizarem sonhos e eles acreditarem que sonhos não precisam de idade”, refletiu.
O sonho acontece quando você busca, quando você vai atrás, quando você não desiste deles
Marta Lima elogiou a força de vontade dos estudantes em participar de atividades que contribuem com o avanço deles.
“Eles vieram, eles quiseram, foram os primeiros da fila. O ônibus chegou lá 13h, e às 13h eles estavam lá aguardando para viver esse grande momento aqui, que também para eles é uma coisa nova, porque é uma iniciativa do governo muito boa e eles pediram pra vir”, finalizou.
