O auditório da Doca 1 - Polo de Economia Criativa -, no bairro do Comércio, em Salvador, foi palco para a realização da sexta edição da Rede Capoeira, 'Heróis Populares', promovida com o propósito de reconhecer o trabalho dos mestres e mestras na preservação da cultura africana. O encontro de abertura, ocorrido nesta quarta-feira (22), reuniu público em geral, familiares dos homenageados, baianos, representantes de instituições públicas, turistas, admiradores e praticantes da capoeira.
Conhecido como Mestre Sabiá, Jair Oliveira de Faria Júnior, idealizador da iniciativa, contou o que te levou a idealizar esse projeto. "Por todo o serviço prestado à sociedade, por tudo que eles significam, por tudo que eles simbolizam, e mais ainda, pelo que a nossa cultura simboliza. O Rei de Capoeira traz uma visão afrocentrada e de protagonismo para os grandes heróis da cultura popular, e, nessa 6ª edição estamos homenageando cinco mestres de capoeira que estão completando 80 anos em 2025, além de mais cinco mestres da cultura popular", contou.
Os homenageados receberam prêmio no valor de R$ 10 mil. Para fazer jus ao propósito da ação, o primeiro dia do evento contou com palestras sobre a importância dessa movimentação cultural. Até este sábado (25), oficinas, palestras, apresentações artísticas, contação de histórias com griôs, rodas de capoeira, samba, shows, aulas de capoeira e outras atividades serão disponibilizadas gratuitamente na Doca 1 e no Mercado Modelo, também no Comércio.
"É um projeto que visa a reparação e a homenagem em vida. Geralmente, a gente faz muita homenagem quando as pessoas vão embora. Quando elas completam o seu ciclo, todo mundo presta agradecimentos, porém, elas não estão mais presentes para receber. Então, eu acredito que a homenagem se faz em vida, o prêmio se faz em vida, e que é um privilégio a gente estar a poder desfrutar de todo o conhecimento que eles têm. E quando esses mestres vão embora, vão embora uma biblioteca inteira com todos eles. A gente fica cada vez mais órfão. E nessa sociedade tão rápida e rasa, acredito que homenagear nossos heróis é um ato político. E nos sentimos contemplados, felizes e agraciados pelos privilégios", completou Sabiá.
Norival Moreira de Oliveira, 79 anos, conhecido como mestre Nô, foi um das 10 pessoas premiadas. "É um privilégio estar aqui e, para mim, assim como para os meus companheiros, os meus colegas, esse momento é uma grande atitude por parte do meu colega, do mestre Sabiá, justamente em nos homenagear como heróis populares. O que no passado não foi feito, hoje está se reparando".
Além de mestres da Bahia, o evento também homenageou personalidades da cultura popular que moram em outras localidades do Brasil. O idealizador, Mestre Sabiá, detalhou quais critérios são levados em consideração para a escolha dessas personalidades. "A história que cada um tem, obviamente a gente não tem braços para contemplar isso tudo porque a gente sempre depende de patrocinadores, de apoio, ter acima de 80 anos ou completando 80 anos, que ainda pratique capoeira. Temos mestres aqui de 97, 98 anos que ainda continuam trabalhando, ou seja, esse esse sistema cruel escravocrata ainda perdura com 90 anos de idade", explicou.