De acordo com a Limpurb, apenas 2% dos resíduos descartados e passíveis de reutilização são reciclados em Salvador. Sem um serviço próprio da Prefeitura, as cooperativas desempenham um papel essencial na reciclagem na cidade, recebendo materiais como garrafas pet, latinhas e vidro. Além de gerar renda para os trabalhadores cooperativados, essa atividade contribui para a preservação ambiental.
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Para jogar luz sobre este trabalho tão essencial para a capital baiana, o Portal MASSA! foi até a Cooperativa Bariri, no Engenho Velho de Brotas, visando entender como funciona o processo de reciclagem, no lugar onde acontece.
A importância da logística
Fundada em 2004, a Bariri, assim como a maioria das cooperativas de reciclagem em Salvador, trabalha predominantemente com doações. Supermercados, condomínios e pessoas interessadas costumam oferecer os resíduos separados após a coleta seletiva.
Essas empresas também colaboram com a logística dos produtos recicláveis com o pagamento de taxas usadas para a compra de combustível. No caso dos condomínios, os valores geralmente são inseridos na mensalidade. A coleta dos materiais é um dos pontos cruciais do trabalho na cooperativa.
"Hoje, a Bariri tem 17 cooperativados. Temos um caminhão próprio da empresa que sai todo dia fazendo coletas. E a gente tem um caminhão que a Prefeitura dá uma vez na semana para a gente fazer essas coletas", explica Elias Júnior, presidente da cooperativa.
Elias ressalta que essa realidade não atinge as 14 cooperativas de reciclagem cadastradas na Limpurb atualmente em Salvador. "Tem cooperativa que só tem esse caminhão que a Prefeitura dá. A Bariri já tem o caminhão dela, já consegue dar um suporte maior", relata.
O trabalho dos cooperativados
Depois que os resíduos chegam à cooperativa, começa o trabalho de separação. Latinhas de alumínio, papelão, garrafas pet e de vidro reciclados ganham maior valor quando são devidamente separadas. "Cada vez que a gente separa novamente o material, mais se agrega valor", acrescenta Elias.
Maria de Fátima Pereira, 59 anos, é uma das trabalhadoras mais antigas da Bariri. Ela atua na empresa há quase 20 anos e se orgulha do trabalho de triagem dos materiais.
Ainda que os resíduos sejam previamente separados pelas pessoas em suas casas, muitos dejetos inutilizáveis são encontrados pelos cooperados que trabalham com a separação. É por este motivo que o trabalho de pessoas como Maria tem tanta importância.
Ela também reforça a importância do descarte adequado no bolso de quem faz esse serviço. "Vale, vale dinheiro. E se jogar fora, o outro reciclador vai reciclar e separar tudo direitinho. Depois diz que acharam que era lixo e jogaram fora", afirma.
Depois que os reaproveitáveis são separados em sacolas, outros cooperados realizam o trabalho de prensagem com ajuda de uma máquina. Os materiais são, então, apreçados e vendidos para as empresas interessadas.
"Geralmente a gente vende para dentro do Estado mesmo. Tem empresa do papel, do vidro, da garrafa pet. Cada uma vem pegar seus materiais. Já se agrega o valor e vende", explica Elias.
Acolhimento de catadores
Estimativas indicam que os catadores de recicláveis, aqueles que são vistos diariamente nas ruas da cidade, são responsáveis por 90% da reciclagem no Brasil. Apesar do número expressivo, esses trabalhadores, geralmente autônomos, não trabalham diretamente com as cooperativas de Salvador.
Os recicláveis coletados por eles geralmente são vendidos a ferros-velhos, por valores nem sempre bem definidos. Além disso, esses estabelecimentos não costumam dar o tratamento devido aos recicláveis. Elias explica que a Bariri já cooperou com catadores autônomos, mas hoje em dia, não consegue oferecer o suporte adequado a eles por conta dos "atravessadores", como chama os donos de ferro-velho.
Com intuito de oferecer mais lucros e melhores condições de trabalho, a cooperativa planeja, em 2025, um projeto para acolher os catadores e tratá-los como trabalhadores cooperativados. A ideia é pagar mais pelo que coletam e distribuir EPIs para uso nas ruas.
"Realmente dar atenção aos catadores de rua, para que a gente possa comprar esses materiais na mão deles, com preço bom, oferecer equipamentos e reconhecer eles como cooperados autônomos", comenta.
A iniciativa, porém, esbarra na dificuldade de manter as finanças da empresa. "A gente costuma dizer que a conta não fecha. O lucro do material em si, não suporta esse aporte. Não dá para manter a empresa com os impostos em dia", finaliza.