
Batizado no Brasil de “Puta Dei”, o Dia Internacional da Prostituta, celebrado ontem (2) marca uma batalha das profissionais do sexo pelo respeito. A celebração desse dia é fruto de uma verdadeira luta que ocorreu há quase 50 anos, na França, quando cerca de cem mulheres ocuparam uma igreja em protesto à repressão sofrida pelas profissionais do sexo.
Quase meio século depois, essa data é usada hoje como uma ferramenta de debate e de visibilidade para a categoria, que vem lutando contra o preconceito da sociedade e em busca de respeito. A coordenadora da Associação das Profissionais do Sexo da Bahia (Aprosba), Fátima Medeiros, explica que é uma batalha diária pela busca do reconhecimento dessas pessoas como indivíduos detentores de direitos.

“Toda categoria tem uma data que foi definida porque houve alguma resistência, suor, lágrimas e sangue de alguém, com a nossa não é diferente”, diz. “Então precisamos que as pessoas entendam que antes de nós houveram companheiras que sequer sobreviveram para lembrar que essa é uma luta constante”, diz Fátima.
Para marcar essa data, a Aprosba, junto à Casa Marielle Franco, organizou uma roda de conversa com o objetivo de debater a importância dessa data e como seguir em busca dos grandes objetivos da categoria.“A gente quer que nos enxerguem como seres humanos. Não adianta nos ver apenas quando é para apontar, xingar, ofender”, sugere Fátima.
“A gente não está querendo colocar ninguém na prostituição, queremos políticas públicas para as mulheres que já vivem disso”, explica. Fátima, que hoje é uma trabalhadora sexual aposentada, conta que começou na profissão aos 22 anos - e por vontade própria.

“Eu não posso dizer que foi falta de oportunidades porque não foi, eu escolhi fazer o que sabia fazer de melhor, que é o sexo”, pontua. Mesmo vindo de uma família religiosa, Fátima não mediu esforços para viver da escolha que fez para o seu corpo e sua vida.
“Eu fui muito feliz, vivi muitas coisas, conheci lugares. Não tenho o que reclamar, mas hoje vivo da militância, da luta pelas minhas companheiras”, diz.
Hoje a coordenadora está dedicada a buscar melhorias para a categoria. “O que queremos é que as pessoas não nos inviabilizem. O trabalho sexual nunca vai acabar, no mundo inteiro”, diz. “A gente quer viver em paz, viver como qualquer outra mulher, qualquer outro ser humano”.

RODA DE CONVERSA
A roda de conversa aconteceu na tarde de ontem na Casa Marielle Franco. Sandra Muñoz, coordenadora da casa, explica que esse espaço, originalmente dedicado à população LGBTQIA +, é agregador.
“O movimento precisa entender que as mulheres são livres e se eu estou aqui para agregar, preciso agregar todas elas”, diz. “Não posso ficar dividindo quem eu vou cuidar ou não”, conclui.
Sandra explica que a Casa Marielle quer ser um espaço de segurança para elas. “A gente tá aqui pra fazer esse acolhimento, acolher essas mulheres é importante. Qualquer mulher tem que saber que essas portas estão sempre abertas pra ela”, diz.
ASSOCIAÇÃO
A Aprosba já trabalha a cerca de 26 anos, como explica Fátima. “A gente luta e luta muito, ainda assim ainda temos mais tristezas que alegrias nessa vida”, detalha.
“A gente conseguiu muito pouco, mas tudo o que conseguimos precisa ser comemorado. Ainda não conseguimos a regulamentação da nossa ocupação, que já é definida como tal pelo Ministério do Trabalho. Mas seguimos na luta porque já é realidade em muitos países, não dá pra fechar a porta”.