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Militância - 03/06/2023, 06:45 - Amanda Souza

Celebração: “Puta Dei” marca luta contra o preconceito

No Dia Internacional da Prostituta, profissionais da categoria se reuniram para um debate sobre as vivências da profissional do sexo

Associação celebra Dia Internacional da Prostituta .
Associação celebra Dia Internacional da Prostituta . |  Foto: Shirley Stolze / Ag. A Tarde

Batizado no Brasil de “Puta Dei”, o Dia Internacional da Prostituta, celebrado ontem (2) marca uma batalha das profissionais do sexo pelo respeito. A celebração desse dia é fruto de uma verdadeira luta que ocorreu há quase 50 anos, na França, quando cerca de cem mulheres ocuparam uma igreja em protesto à repressão sofrida pelas profissionais do sexo.

Quase meio século depois, essa data é usada hoje como uma ferramenta de debate e de visibilidade para a categoria, que vem lutando contra o preconceito da sociedade e em busca de respeito. A coordenadora da Associação das Profissionais do Sexo da Bahia (Aprosba), Fátima Medeiros, explica que é uma batalha diária pela busca do reconhecimento dessas pessoas como indivíduos detentores de direitos.

Fátima Medeiros, coordenadora geral da ABROSBA
Fátima Medeiros, coordenadora geral da ABROSBA | Foto: Shirley Stolze / Ag. A Tarde

“Toda categoria tem uma data que foi definida porque houve alguma resistência, suor, lágrimas e sangue de alguém, com a nossa não é diferente”, diz. “Então precisamos que as pessoas entendam que antes de nós houveram companheiras que sequer sobreviveram para lembrar que essa é uma luta constante”, diz Fátima.

Para marcar essa data, a Aprosba, junto à Casa Marielle Franco, organizou uma roda de conversa com o objetivo de debater a importância dessa data e como seguir em busca dos grandes objetivos da categoria.“A gente quer que nos enxerguem como seres humanos. Não adianta nos ver apenas quando é para apontar, xingar, ofender”, sugere Fátima.

“A gente não está querendo colocar ninguém na prostituição, queremos políticas públicas para as mulheres que já vivem disso”, explica. Fátima, que hoje é uma trabalhadora sexual aposentada, conta que começou na profissão aos 22 anos - e por vontade própria.

Fátima Medeiros, coordenadora geral da ABROSBA, Sandra Munhoz, presidenta da Casa Marielle Franco, Suzana Amorim, Nadine Matos, Lana Terapia, Silvio Lacerda e a jornalista Kaliandra Gonzalez.
Fátima Medeiros, coordenadora geral da ABROSBA, Sandra Munhoz, presidenta da Casa Marielle Franco, Suzana Amorim, Nadine Matos, Lana Terapia, Silvio Lacerda e a jornalista Kaliandra Gonzalez. | Foto: Shirley Stolze / Ag. A Tarde

“Eu não posso dizer que foi falta de oportunidades porque não foi, eu escolhi fazer o que sabia fazer de melhor, que é o sexo”, pontua. Mesmo vindo de uma família religiosa, Fátima não mediu esforços para viver da escolha que fez para o seu corpo e sua vida.

“Eu fui muito feliz, vivi muitas coisas, conheci lugares. Não tenho o que reclamar, mas hoje vivo da militância, da luta pelas minhas companheiras”, diz.

Hoje a coordenadora está dedicada a buscar melhorias para a categoria. “O que queremos é que as pessoas não nos inviabilizem. O trabalho sexual nunca vai acabar, no mundo inteiro”, diz. “A gente quer viver em paz, viver como qualquer outra mulher, qualquer outro ser humano”.

Sandra Munhoz, presidenta da Casa Marielle Franco
Sandra Munhoz, presidenta da Casa Marielle Franco | Foto: Shirley Stolze / Ag. A Tarde

RODA DE CONVERSA

A roda de conversa aconteceu na tarde de ontem na Casa Marielle Franco. Sandra Muñoz, coordenadora da casa, explica que esse espaço, originalmente dedicado à população LGBTQIA +, é agregador.

“O movimento precisa entender que as mulheres são livres e se eu estou aqui para agregar, preciso agregar todas elas”, diz. “Não posso ficar dividindo quem eu vou cuidar ou não”, conclui.

Sandra explica que a Casa Marielle quer ser um espaço de segurança para elas. “A gente tá aqui pra fazer esse acolhimento, acolher essas mulheres é importante. Qualquer mulher tem que saber que essas portas estão sempre abertas pra ela”, diz.

ASSOCIAÇÃO

A Aprosba já trabalha a cerca de 26 anos, como explica Fátima. “A gente luta e luta muito, ainda assim ainda temos mais tristezas que alegrias nessa vida”, detalha.

“A gente conseguiu muito pouco, mas tudo o que conseguimos precisa ser comemorado. Ainda não conseguimos a regulamentação da nossa ocupação, que já é definida como tal pelo Ministério do Trabalho. Mas seguimos na luta porque já é realidade em muitos países, não dá pra fechar a porta”.

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