
Moradores da comunidade da Ladeira da Preguiça, no bairro Dois de Julho, em Salvador, amanheceram neste fim de semana com o barulho da demolição parcial de um prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A ação contra o imóvel aconteceu de maneira ilegal e revoltou a população que mora na localidade.
Considerada uma das principais ladeiras do Centro Histórico da capital baiana, a Ladeira da Preguiça liga o bairro do Comércio, na altura da Bahia Marina, à Praça Castro Alves, e carrega um grande significado cultural. Moradores relataram que vivem uma luta para continuarem lá, pois ela sofre constantemente com ameaças de especulação imobiliária.
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Segundo a coordenadora do Centro Cultural Que Ladeira é Essa?, Nilma Santos, os trabalhadores que compareceram para demolir parte do imóvel chegaram na localidade por volta das 8h do sábado (1º). Apesar de terem dito que possuíam autorização para a obra, alguns detalhes levantaram a suspeita do povo sobre a possibilidade de ser um trambique.
“Eles chegaram por volta das 8h aqui na comunidade. Eles alegam ter alvará, mas não apresentaram nada! Se apresentaram falando que tinha risco de queda do prédio e que a Codesal esteve aqui no lugar. Eles só fecharam a rua com cones e fita e simplesmente começaram a demolir o prédio. Tinha uma engenheira aqui, particular deles, acompanhando a demolição do prédio”, disse ao MASSA!.
Assista:
De acordo com a população, o responsável pela demolição inadequada só apresentou um recibo de compra e venda do prédio, mas não possuía nenhum outro documento oficial. Para completar, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) não tinha comunicado a ninguém sobre a obra, afinal, não estava autorizada pelo órgão.
Diante de tantos erros grotescos, as pessoas procuraram Daniel Marostegan e Carneiro, professor da Faculdade de Arquitetura da UFBA (FAUFBA), que também é coordenador do Canteiro Modelo de Conservação, um projeto que atua na preservação da moradia popular no Centro Histórico, em parceria com o IPHAN, para relatar o ocorrido.
“A comunidade fez contato com a gente logo cedo sobre essa situação, dessa demolição. A gente recebeu, no sábado, que não é um dia de atividade corrente dos órgãos, mas a gente fez contato com pessoas do IPHAN. E a informação que chegou é que não existe, não encontraram, não identificaram essa autorização para essa demolição”, detalhou.
Iphan se pronuncia sobre o caso
Procurado pelo MASSA!, o Iphan confirmou que a demolição parcial do casarão na Ladeira da Preguiça ocorreu de maneira ilegal. Com apoio da Codesal, a obra foi embargada e o caso está sendo investigado pelas autoridades.
“O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informa que a Superintendência da Bahia recebeu a denúncia em 1 de fevereiro de 2025. O Instituto verificou a falta de autorização para demolição do imóvel situado na Ladeira da Preguiça e, por isso, embargou a intervenção. A ação do Iphan contou com apoio da Defesa Civil (Codesal/PMS) e um processo administrativo foi aberto com base na Portaria 187/2010, que dispõe sobre procedimentos para apuração de infrações por danos ao patrimônio cultural”, destacou a nota.