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Recôncavo - 19/07/2025, 10:00 - Amanda Souza

Caretas de Saubara exalam beleza e excentricidade da cultura popular

A cada domingo do mês, personagens irreverentes tomam as ruas da cidade com máscaras

Uma das caretas produzidas em Saubara
Uma das caretas produzidas em Saubara |  Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde

Basta chegar o mês de julho para o clima mudar no município de Saubara, no Recôncavo da Bahia. Pulando de uma tradição para outra, o São João abre as portas para o mês das caretas. A cada domingo do mês, personagens irreverentes tomam as ruas da cidade com máscaras feitas à mão e roupas coloridas que dividem a linha tênue entre o horror e a beleza da cultura popular.

As máscaras são, em geral, confeccionadas com papelão e cola, material moldado sobre barro ou cimento, o que permite maior criatividade e liberdade na forma dos rostos. Cada pessoa cria seu próprio personagem e guarda em sigilo sua identidade para caminhar nas ruas. Para assustar? Brincar? Só o mascarado vai dizer.

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É uma tradição antiga, secular. Se você perguntar nas ruas da cidade quando tudo isso começou, ninguém sabe dizer ao certo, mas garantem que faz parte da memória da infância, não importa a idade. O tempo passou e, como tudo que é popular, as caretas de Saubara foram se transformando. Muita coisa mudou, mas boa parte das pessoas ainda luta para manter viva essa característica marcante da região.

Imagem ilustrativa da imagem Caretas de Saubara exalam beleza e excentricidade da cultura popular
Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde

O pescador e artista Emerson Jesus, de 31 anos, aprendeu a fazer máscaras ainda criança, como um bom nativo. Hoje, dedica parte do seu tempo a criar novos modelos com as técnicas que desenvolveu ao longo dos anos, aprimorando aquilo que os mais antigos colocaram em prática.

“Faço com papelão, cola branca e farinha de trigo. Com o tempo, fui criando uma técnica mais para ser mais leve e não desmanchar as pontas”, contou. “Faço os moldes com cimento, ao invés de barro, porque seca melhor”, disse.

Mestre da Cultura de Saubara, Emerson é reconhecido pelo trabalho que faz com as máscaras e conta que sonha em um dia ter uma casa de cultura para ministrar oficinas. “Esses meninos mais novos precisam aprender a fazer. Eles querem participar da festa na rua, mas não querem fazer as máscaras, querem comprar pronto. Não podemos deixar morrer”, disse o artista.

Marcos Barbosa, o Café, compartilha desse pensamento e, aos 38 anos, segue fazendo máscaras para não deixar esse legado se apagar. Ele é um apaixonado pelo ofício, o que é inesperado, já que, quando criança, morria de medo das caretas. Ajudava a fazer as máscaras, mas tinha medo de sair na rua no dia da brincadeira.

“É um pedaço de papel que, aos poucos, vai ganhando forma. É a máscara que vai pedindo, eu vou sentindo e criando”, conta, sobre o processo criativo. “Depois é ir pra rua e ver as pessoas animadas, impressionadas com a criatividade”.

Imagem ilustrativa da imagem Caretas de Saubara exalam beleza e excentricidade da cultura popular
Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde

História começou na África

A tradição remonta a práticas populares antigas, com possíveis influências africanas e portuguesas. É uma manifestação cultural rica e única, com raízes populares ligadas ao sincretismo, à religiosidade e à resistência cultural. Embora tenha semelhanças com outras expressões de máscaras e fantasias de outras festas baianas, como os caretas de Acupe (de Santo Amaro) ou os papa-figos de Maragogipe, as caretas de Saubara têm características próprias, como explica o pesquisador e articulador cultural Bel Salbara, nativo, como o nome evidencia.

“O professor Nelson de Araújo disse, na década de 80, que, no aspecto cultural, Saubara deveria ser o coração do Recôncavo. Isso pelo grande número de manifestações que aqui existia, porque, enquanto alguns lugares estavam morrendo, Saubara ainda continuava nascendo”, disse. “E hoje as caretas resistem porque essa é uma festa democrática, é para todas as pessoas. Não precisa pertencer a nada, pagar nada, só colocar a máscara e sair”, afirmou Bel.

Imagem ilustrativa da imagem Caretas de Saubara exalam beleza e excentricidade da cultura popular
Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde

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