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fé e simbolismo - 03/07/2025, 06:00 - Olga Leiria / Ag. A TARDE

Batalhão Quebra-Ferro carrega tradição e resistência no 2 de Julho

Baianos celebram a independência com tradição familiar, fé popular e resistência no Centro Histórico de Salvador

Batalhão Quebra-Ferro emociona no 2 de Julho em Salvador
Batalhão Quebra-Ferro emociona no 2 de Julho em Salvador |  Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

O dia 2 de julho inicia, e Iracema Alves, de 55 anos, acorda com saudade do pai, Cosme Alves, que faria 77 anos nesta data, mas infelizmente não está mais por aqui. Cosme adorava o 2 de Julho porque, além de ser o seu aniversário, tinha uma grande responsabilidade: conduzir os carros do Caboclo e da Cabocla no Cortejo da Independência do Brasil na Bahia. Ele integrava o Batalhão Quebra-Ferro. Acordava soltando fogos, comemorava com a família, se arrumava e ia ao Largo da Lapinha.

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Hoje, é a família de Cosme que coloca frutas no altar da entidade, toma café e vai para a Lapinha. Lá, eles seguem o Cortejo do 2 de Julho ao lado do Caboclo e da Cabocla. Iracema é a única mulher oficialmente autorizada pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) a conduzir os carros.

A herdeira de Cosme se junta a mais de 100 homens, dos mais jovens até os experientes, que chegam às 4h no Pavilhão 2 de Julho para dar início aos festejos da independência.

Abre-se o pavilhão, e ali estão as estrelas da festa: o Caboclo e a Cabocla. Neste ano, vestem branco para reforçar o pedido de paz. Sob os cantos dos bem-te-vis e joões-de-barro, com o sol ainda se espreguiçando, eles saem carregados pelos ‘soldados’ do Batalhão, todos de branco, com detalhes em verde e amarelo nas camisas que indicam o papel de cada um no cortejo.

Iracema Alves, filha de Cosme Alves
Iracema Alves, filha de Cosme Alves | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Quem tem a logo verde conduz o Caboclo. Amarelo, a Cabocla.

O grupo é dividido em 50 integrantes para cada carro e mais de 100 metros de cordas são usados para guiá-los. Pedro Raimundo das Virgens Hamburgo, o Tuchê, com 43 anos de experiência no 2 de Julho, coordena os grupos do Batalhão. Sua função é organizar os homens, ficar atento às paradas fixas e cuidar das pessoas que se aproximam dos carros para tocar ou ajudar a conduzir.

Pedro Raimundo das Virgens Hamburgo, o Tuchê
Pedro Raimundo das Virgens Hamburgo, o Tuchê | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

"Tem que cuidar quando o carro pega velocidade, as pessoas estão curtindo a festa e a gente cuida de todos", relata, destacando que “o 2 de Julho é a representação de nossos antepassados que lutaram na guerra com glória e fé. Temos que seguir honrando", disse.

Para ele, a parte do trajeto mais difícil é a Ladeira do Carmo. "Lá temos que cuidar porque a descida é íngreme, estreita e as pedras são lisas", comenta Tuchê, que tem a companhia da filha, Júlia Regina, de 13 anos, tanto na ida no dia 2 de Julho quanto na Volta da Cabocla, no dia 5.

O coordenador compartilha uma lembrança marcante do cortejo. "Uma vez, uma mulher pediu ajuda para pegar uma folha do ornamento do Caboclo para fazer chá para uma criança doente. Estiquei o braço e entreguei para ela. No ano seguinte, veio me agradecer, seu menino estava curado", relembra,

Com 25 anos na coordenação-geral do Batalhão Quebra-Ferro, Paulo Sérgio Teixeira, 55, destaca que, todos os anos, mais de 30 pessoas aguardam na fila de espera para participar do cortejo.

Aspas

"Muitos querem participar, mas não temos vagas"

Paulo Sérgio Teixeira, de 55 anos
Paulo Sérgio Teixeira, de 55 anos | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Florisvando Nascimento, 65 anos, conhecido como Hulk por causa dos olhos verde-água, conduz o carro da Cabocla há mais de 40 anos. "Tem que cuidar com a trepidação do carro na ladeira, balança muito, senão pode tombar", alerta.

O veterano do Batalhão é José Osmundo dos Santos Filho, de 74 anos, o Índio, como é conhecido. Ele está há 53 anos guiando o Caboclo. "Entrei para fazer um trabalho de 2 dias de servente e estou até hoje. Apesar de ser católico, eu também converso com o Caboclo", conta ele rindo.

O êxito da atuação do Batalhão Quebra-Ferro conta com a união da Fundação Gregório de Mattos (FGM), e a Secretaria Municipal de Manutenção da Cidade (SEMAN).

Povo se encanta

Todos querem participar de alguma maneira: pegam na corda, ficam na parte de trás do carro ou simplesmente tocam rapidamente na carroça e seguem adiante. Pessoas emocionadas batem palmas, mandam beijo, colocam a mão no peito como se estivessem abraçando as entidades. Frutas são colocadas, pessoas aparecem nas janelas e sacadas com celulares, todos felizes com a passada do Cortejo. Frases de Viva o 2 de Julho e a Viva a Independência da Bahia são gritadas.

Muita água é distribuída no caminho. Com uma voz firme e forte, o condutor do grupo vai dando os comandos, que são repassados como um grande eco.

Populares ajudam a empurrar o carro nas subidas e a puxar a corda
Populares ajudam a empurrar o carro nas subidas e a puxar a corda | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Populares ajudam a empurrar o carro nas subidas e a puxar a corda. Uma força interior e coletiva move cada indivíduo. Segundo informações não oficiais, o carro do Caboclo pesa mais de 500 quilos. Existe ali uma força de cooperação entre pessoas que muitas vezes nem se conhecem, mas que estão unidas, radiantes, pelo seu 2 de Julho.

Sorrisos e gestos de apoio se multiplicam pelo caminho.

Chegada no caramanchão

No Terreiro de Jesus e praça da Sé, um mar de celulares se ergue para registrar a passagem dos representantes da Vitória baiana. O Batalhão Quebra-Ferro coloca os carros dentro do caramanchão com destreza, enquanto um mar de pessoas se coloca à frente e nas laterais dos carros. Uma roda de samba começa. Uma longa fila se forma para pegar o feijão. Alfazema é jogada nos caboclos e todos ao redor são abençoados com o perfume também. Uma mãe coloca seu bebê aos pés do Caboclo e conversa com a entidade. Depois abraça seu bebê com amor.

Batalhão Quebra-Ferro emociona no 2 de Julho em Salvador
Batalhão Quebra-Ferro emociona no 2 de Julho em Salvador | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Os condutores do carros saem felizes pelo serviço cumprido, sorriem uns para os outros, se abraçam e cumprimentam, procuram suas família para o almoço, afinal às 14h00 com o sinal dos fogos, tudo começa novamente, o batalhão pega as cordas e seguem sua batalha rumo ao Largo do Campo Grande para celebrar a Vitória do povo baiano.

História

Nos primeiros anos do desfile, segundo publicação do IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia), o grupo era chamado de Batalhão Negro e era formado por homens independentes. Depois, foi ligado à Educação Cívica. Mais tarde, passaram a se inscrever como cidadãos no IGHB (Instituto Geográfico e Histórico da Bahia). Atualmente, todos os

O nome Batalhão Quebra-Ferro, segundo a antropóloga e socióloga Gilda Conceição, atualmente colaboradora técnica na Superintendência do Iphan-BA, deve ter relação com o batalhão de soldados que conduziu a carruagem de guerra ao fim da Batalha de Independência.

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