A celebração de Nossa Senhora da Conceição da Praia, ocorrida nesta quinta-feira (8), levou de 5 a 10 mil fiéis à Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, no bairro do Comércio, em Salvador. A tradicional cerimônia, com missas, saída dos andores, seguida da procissão, comemorou a data da padroeira da Bahia. O dia iniciou com a alvorada e missas espaçadas entre 5h e 17h. O ponto alto dos festejos foi a Solene Celebração Eucarística, presidida pelo arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, o cardeal Dom Sérgio da Rocha, às 9h.
“Nós temos a alegria de neste ano ter, além da missa, um momento de alegria, de louvor a Deus pelos passos que nós temos dado na superação da pandemia, mas também a procissão, que mostra esse caminhar junto, nesse tempo difícil que temos vivido”, declara o Cardeal Dom Sérgio. “O mundo precisa de gente que viva em paz, que se dê as mãos, que esteja lado a lado um ajudando o outro, sendo solidário. Nós estamos vivendo um momento difícil com as consequências da chuva em algumas cidades da Bahia e precisamos de solidariedade”, completa.
Dessa vez, o andor com a santa veio paramentado apenas com rosas brancas, simbolizando a paz. A saída da imagem da basílica foi precedida pela saída das bandeiras dos municípios baianos e das imagens do Deus menino, Santa Bárbara, Senhor do Bonfim, São José e Nossa Senhora das Candeias. A procissão seguiu por cerca de 1km, partindo da igreja e passando pelas ruas Conceição da Praia, Miguel Calmon, Avenida França, Av. Bélgica, e Avenida Contorno, retornando ao ponto de partida.
O tema deste ano foi “Olha a estrela, invoca Maria, Nossa Senhora da Conceição da Praia, Padroeira da Bahia”. Antes, de 29 de novembro a 7 de dezembro, aconteceu o novenário em honra à Mãe de Jesus, às 19h. Diariamente, neste período, são celebradas missas às 16h30 e, no último dia do novenário, 7, também as Celebrações Eucarísticas entre 7h30 e 15h.
Tradições
“A partir do século XVI, começa-se uma tradição festiva de devoção muito forte, que já era presente em Portugal e também em outros lugares do mundo”, explica Rafael Dantas, historiador e membro da Irmandade do Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da Praia. A basílica em que se realizou o evento data do século XVIII, uma das mais caras do período.
“Entre as tradições que a gente pode destacar nesse processo ritualístico, está a novena, a parte da missa festiva solene, o translado da imagem de Nossa Senhora saindo da igreja vendo os fiéis”, aponta ele. “Os fiéis geralmente vão para a capela mor, em que eles acendem as velas”, detalha Thomaz Gonçalves, tesoureiro da Irmandade. O tesoureiro conta que cerca de 120 pessoas da Irmandade são mobilizadas para garantir que o evento aconteça.
“A gente começa com a alvorada, missa das 5h da manhã, das 6h, 7h, 8h e às 9h, a missa campal”, explica Sérgio Góes, membro da diretoria da Irmandade. Durante a missa campal, há a chamada homilia, pregação evocada à santa, trazendo sua história e importância. “É feito antes o preparativo da homilia, pelo pároco da igreja e pelo arcebispo que está presidindo a missa campal”, explica ele.
Dentre as tradições da cerimônia, está a doação de flores, especialmente de rosas, pelos fiéis para a padroeira. “Qualquer tipo de flor já ajuda Nossa Senhora e o pessoal faz doação espontaneamente, sem problemas”, diz Thomaz. “Até o manto de Nossa Senhora, estamos já, de 9 anos pra cá, ganhando esse manto, que é caríssimo, feito no Rio de Janeiro. Está entre 60 e 80 mil reais”.
“Alcancei a primeira graça com ela e fiquei devota até hoje”, relata Cristina Tamura, fiel há 35 anos. O vínculo com a santa começou ao recorrer à padroeira durante a luta contra um problema de saúde. “Depois que eu conheci ela, minha vida mudou e fiquei curada. Para mim, depois de Deus, é ela”, completa.
“No sincretismo religioso, temos a associação de Nossa Senhora da Conceição com Oxum, isso era presente desde os séculos 18 e 19”, explica Rafael. “Naquela época, por uma questão de resistência e força, se associava Nossa Srª da Conceição a Oxum para continuar mantendo os cultos de matriz africana”. Com fiéis do catolicismo e do candomblé, o dia da padroeira ainda é celebrado próximo às datas de Santa Bárbara, 4, (Iansã, pelo sincretismo) e Santa Luzia, 13. “Nossa Senhora da Conceição da Praia Imaculada vem junto com Oxum, Iansã. É tudo aquela união”, descreve Rita dos Santos, mãe de santo e devota há 16 anos.
Por conta da pandemia, a quantidade de participantes este ano foi menor em relação às edições da celebração realizadas até 2019, de acordo com a PM e membros da irmandade.
* Sob a supervisão da editora Louise Batista
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