
Quem passou pelo Centro Histórico na tarde dessa sexta-feira (5) viveu de perto o “puro suco” de Bahia. Os olhos vidrados de soteropolitanos e turistas não escondiam o encantamento com o desfile de 30 grupos de afoxés que embelezaram, coloriram e embalaram as ruas do Pelô.
O desfile integra o projeto “Afoxé Cultura Ancestral”, uma iniciativa que trabalha pela preservação e reconhecimento cultural desse grupo que, apesar de ter raízes na Bahia, ainda é desconhecido por muitas pessoas da terra.
Partindo do Terreiro de Jesus, os grupos seguiram em cortejo até o Largo do Pelourinho, embalados pelo som dos agogôs espalhados entre o cortejo, cantando e dançando. No Largo, cada grupo se reuniu para seguir com suas manifestações, agora separados, e contaram com a participação de muitos curiosos que pararam para tirar fotos e admirar de perto.

Samile Vitoria é uma das diretoras do Afoxé Olorum Baba Mi e esteve a frente do planejamento desse projeto de salvaguarda. Ela destacou que “isso é importante para tornar público e promover visibilidade para essas manifestações culturais que são a nossa cultura, ancestralidade e religião. Esse evento ajuda muito para o reconhecimento desses grupos que muitas vezes são invisibilizados”.
O afoxé é um berço de saberes ancestrais e não se resume ao desfile. A proposta do evento, como reforça Samile, é justamente fazer com que as pessoas vejam esses grupos e compreendam o papel que eles exercem na cultura da Bahia.
“Os afoxés têm um papel fundamental na nossa sociedade. Muitos são oriundos de comunidades periféricas, por isso têm forte influência nesses locais inclusive por ações socioeducativas. Nossa cultura salva vidas e muda muitos futuros”, garantiu Samile.

O Afoxé Filhos de Ghandy foi o responsável por puxar o cortejo, que foi organizado por ordem de idade - respeitando os mais velhos, como pregam as religiões de matriz africana. Chico Lima, diretor executivo do grupo, celebrou o momento vivido nessa sexta.
“É a culminância de algo que vem sendo preparado há muito tempo; momento de fortalecimento, de vitória e de conquista. São 10 anos de tombamento como Patrimônio Imaterial e só agora temos a primeira ação de salvaguarda para mostrar que o que fazemos é cultura e é uma cultura latente, só precisa de apoio”, pontuou Chico.
Além do desfile, o projeto conta ainda com uma mostra no Solar Ferrão, no Pelourinho, que exibe adereços e indumentárias de valor cultural para os 20 grupos afoxés. É possível visitar a exposição até o dia 21 de janeiro - e é gratuito!

Patrimônio imaterial
O desfile de afoxés é reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia, por meio do Decreto nº 12.484 de 2010, e por isso se faz necessária a existência de ações que lutem pela manutenção dessa tradição. Luciana Mandelli, diretora geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), comentou a necessidade de apoio da gestão pública para que esses grupos resistam.
“É emocionante ver essa organização genuinamente popular; É o povo com o povo se organizando. A nossa tarefa como instrumento público é dar subsídio para que isso se mantenha, para que essa memória não se perca, garantir a salvaguarda para garantir que a nossa cultura não se perca e a nossa história seja contada dessa maneira linda que estamos vendo em desfile”, defendeu a diretora.
Ainda para Luciana, essa expressão cultural é um grande convite. “É uma ação do verão que não é só para o turista, é para as pessoas que estão em casa para ver os blocos de seus bairros aqui, e oferecer para quem vier visitar Salvador a oportunidade de conhecer uma expressão genuína da nossa cultura. Não é folclore nem representação, são os detentores desse bem exercendo o seu direito”.


































