A área de Assuntos Internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP) alerta para os riscos que o acordo Mercosul-União Europeia (UE) pode representar para o Brasil, com prejuízo às estatais e a outros setores importantes da economia brasileira. Para a federação, os termos da negociação podem criar entraves para o desenvolvimento autônomo do país. Um dos aspectos criticados é a determinação de que empresas estatais ajam exclusivamente de acordo com parâmetros comerciais em suas compras ou vendas de bens, ou serviços.
A entidade entende que isso pode cercear políticas de preço e de conteúdo local nas compras realizadas por empresas públicas e, assim, constranger decisões de investimentos que não obedeçam a uma razão estritamente mercadológica, categorias nas quais se incluiriam as políticas de desenvolvimento regional ou programas de capacitação de fornecedores.
A complexidade do tema, destaca a FUP, pode ser traduzida pelo tempo em que o acordo vem sendo negociado. “Há 20 anos isso está em debate, os interesses não são conciliáveis”, destaca Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP. Em 2019, houve precipitação do “consenso entre as partes”. O Brasil, sob gestão de Jair Bolsonaro, aceitou um acordo claramente prejudicial aos países do Mercosul.
A irresponsabilidade de Bolsonaro fica evidente quando se observa que até o neoliberal Macri excluiu do acordo empresas estatais estratégicas da Argentina. O Brasil não fez nenhuma reserva, não excluiu nenhuma de suas empresas do acordo”, lembra Bacelar e defende que essa é apenas uma das coisas que o atual governo precisa fazer. “Temos de retirar do acordo a Petrobrás, a Eletronuclear, a Embrapa, o BNDES e a Caixa Econômica Federal”, pontua.
Do ponto de vista de bens, a FUP avalia que a promoção da abertura total do mercado brasileiro prejudicará diversos setores da economia nacional. Isso devido à eliminação dos impostos de importação em mais de 90% do comércio de bens entre as regiões, incluindo o setor de máquinas e equipamentos. Ao zerarem as tarifas, grande parte das cadeias produtivas seriam impactadas e os reflexos sentidos na geração de emprego e renda.
Mercosul-Singapura
O alerta também ocorre quando o tema é o acordo com Singapura, herança do governo Bolsonaro e que está em pauta da Cúpula do Mercosul. “Os termos do acordo mal foram anunciados e nos parece que há pressa para assinar. Não recomendamos. Para nós é preciso um olhar atento para avaliar se existem problemas semelhantes aos identificados no acordo em negociação com a União Europeia”, destaca Bacelar. “É importante deixarmos para trás esse ‘presente’ do governo Bolsonaro, principalmente diante da intenção correta do presidente Lula de revitalizar a indústria naval e a engenharia brasileira”, finaliza.