A Bahia é a terra do axé, mas também é a terra do reggae. O estado é o berço de grandes expoentes desse ritmo, como a banda Adão Negro e o cantor Edson Gomes. E, para celebrar a presença do reggae na Bahia, há quatro anos o Palco do Reggae leva mensagens de amor e paz para o Carnaval de Salvador. Com cinco dias de festa, a programação este ano começará a partir do dia 28/02, às 17h30, na Casa Cultural Reggae, no Pelourinho.
Com mais de 30 atrações este ano, o Palco do Reggae é resultado de um esforço coletivo. Construído por diversos representantes do reggae em Salvador, o projeto é a personificação da força dessa cultura na Bahia. “Esse coletivo não é só de bandas, ele é como um todo. Tudo que faz parte da cultura reggae se faz presente nesse movimento. Temos djs, soundsystem e rádios que fazem parte da nossa cultura”, detalhou o cantor Bruno Natty, uma das atrações do palco, em entrevista ao MASSA!.
A produtora cultural Jussara Santana foi a responsável por dar o primeiro passo para a criação do palco. Ela explica que a ideia surgiu como uma forma de garantir espaço para os artistas deste ritmo que existem na cidade. “Nós temos na Bahia 176 bandas, então eu não podia ficar acomodada vendo toda a potência que tem o reggae”, descreveu.
O projeto ainda é uma forma de promover mais diversidade no cenário do reggae. Jô Kallado, que também faz parte da lista de atrações do palco, aponta que a presença feminina nesse meio ainda é escassa. “Como mulher negra eu me sinto bem honrada de estar nesse palco. Nesse cenário da música reggae nós não somos muito vistas”, pontuou.
Apesar de possuir uma história rica dentro da Bahia, o reggae acaba não sendo tão valorizado. Jussara afirma que o motivo disso seria a mensagem que o ritmo carrega. “É uma música que passa para as pessoas [a mensagem] para você libertar sua mente. Então, o sistema da forma que ele é, nunca vai querer essa música”, garantiu.
Os maiores pilares do movimento reggae são o amor e a paz. Bruno ressalta a importância de pregar essas mensagens durante o período carnavalesco. “Reggae é música de libertação e educacional. Quando levamos o reggae para os guetos, para as comunidades, estamos levando música para o povo pensar, para o povo entender o que se passa na sociedade”, alegou.
Mais de uma década de Bloco Aspiral
O Bloco Aspiral do Reggae é o projeto mais antigo desenvolvido por Jussara Santana e o cantor Kamaphew Tawá. Com 16 anos de existência, o bloco foi o responsável por abrir os caminhos para as outras atrações que foram criadas posteriormente. Nesta edição, o bloco vai desfilar no dia 03/03, às 20h30, no Campo Grande. “O bloco é para enfrentar esse sistema que está aí. Somos uma fagulhazinha pequena, então é muito trabalho, mas a gente se mostra potente”, ressaltou Jussara.
Sob o comando de Kamaphew, o bloco surgiu como uma forma de preencher uma demanda que existia na cidade. O cantor explica que existia muitos regueiros na cidade, mas poucas atrações destinadas a eles. “O bloco nasceu porque a gente saía e via as pessoas procurando esse ritmo, pessoas vestidas com as cores do reggae. O bloco nasceu para alimentar essas pessoas”, afirmou.
Desde a criação do bloco, Salvador presenciou muitas mudanças na cena do reggae. Mesmo que atualmente as coisas ainda possam melhorar, antigamente o cenário era ainda mais turbulento. “Mudou financeiramente, além das oportunidades. Eu já saí de Salvador porque não tinha um show no Carnaval, hoje eu tenho quatro shows no Carnaval”, comentou Jussara.
Para a edição deste ano, o Aspiral do Reggae vai homenagear o cantor Joseph Hill, vocalista do grupo jamaicano Culture. Joseph foi um dos principais representantes do reggae no mundo inteiro. “Eu quero fazer como se ele realmente estivesse nesse palco, fazendo com que as pessoas se elevem”, revelou Kamaphew.
Jussara aponta que a presença do bloco na avenida potencializa a diversidade musical do Carnaval de Salvador. Além de uma atração para quem curte o gênero, o Bloco Aspiral do Reggae também transmite uma mensagem. “A Bahia não tem uma cultura só, nós somos diversos. Então, um bloco de reggae sair na maior festa do mundo é muito importante”, contou.
Estar em cima do trio não é apenas um trabalho, mas também é uma diversão. Além de ficar feliz em se apresentar no período carnavalesco, Kamaphew também aponta que o gênero musical ainda vai ganhar muito mais espaço na capital baiana. “O reggae invadiu os meios, os cantos e todos os lugares da cidade. Tem reggae por todo lugar. E vai melhorar mais ainda, vamos tomar conta dessa cidade”, assegurou.
Pipoca ao som de muito reggae
Uma novidade que surgiu no ano passado para os regueiros que curtem o Carnaval é a Pipoca do Reggae. A atração acontece no dia 01/03, às 21h30, no Campo Grande. Jussara explica que, como o Bloco Aspiral do Reggae já tem o costume de sair sem cordas, existem poucas diferenças entre ele e a pipoca. “No bloco a gente precisa ter um abadá, para sair e homenagear. Na pipoca não, você vai com camisa ou sem camisa, vai como você quer e brinca da mesma forma”, pontuou.
A maior característica da Pipoca do Reggae é o respeito ao próximo. A atração é repleta de diversidade e pode ser curtida por qualquer tipo de pessoa. “No nosso bloco sai gente de 78 anos, sai cadeirante, criança. O reggae consegue agregar, com cada um tomando conta um do outro", contou.
Normalmente, as pipocas carnavalescas costumam ser associadas às brigas. A produtora pontua que não existe espaço para a violência em um ambiente regado ao som de reggae. “A gente bota a galera para dançar, mas um emanando com o outro. Não é aquela coisa de meter o cotovelo e ir abrindo o salão, muito pelo contrário, as pessoas se abraçam, dançam e vibram”, garantiu.
Para Kamaphew Tawá, o que torna a Pipoca do Reggae em um ambiente de amor são as letras das canções. O cantor explica que o público costuma replicar o que ele ouve nas músicas. “As letras estão sempre pregando união e respeito, buscando com que você se conheça e isso vai para a avenida. Quando a mensagem vem, é um sorrindo para o outro, protegendo o outro”, pontuou.
Para esse ano, a pipoca vai contar com a participação de Kamaphew Tawá, Denison Doria e Célia Sampaio. Apesar de estar apenas em seu segundo ano, Jussara tem grandes expectativas para o projeto. Uma de suas inspirações é uma banda bem conhecida no Carnaval de Salvador. “Eu quero que um dia ela seja realmente a pipoca que extravase, tipo BaianaSystem, que venha aquela multidão consumindo uma música boa, dançando, extravasando”
Programação completa do Palco do Reggae:
Sexta-feira (28/02)
17:30 - Dj Ras Péu
18:10 - Nollasko
19:50 - Cativeiro
20:40 - Kamaphew Tawá e B. Aspiral do Reggae
21:20 - Ital Crew
22:00 - Zimbabwe Roots
22:40 - Dj Ras Péu
Sábado (01/03)
17:30 - Dj Tau
18:10 - Brasa Acesa
19:50 - Vivi Akwaba
20:40 - Tikão e Banda Santuaryo
21:20 - Reinaldo Formigão e Banda Misturekaya
22:00 - Jô Kallado – soundsystem
22:40 – Q’BANA som de Praia
Domingo (02/03)
17:30 - Dj Junior Vibz
18:10 - Chocolate e Banda Bola de Fogo
19:50 - Luis Cardoso e Banda Celebration
20:40 - Defensores da Natureza
21:20 - Jahca Man e Banda Os Conscientes
22:00 - Adilson Alves e Banda Dom de Jah
22:40 - Gelfyah - soundsystem
Segunda-feira (03/03)
17:30 - Dj Maicon Rasta
18:10 - Libu do Reggae
19:50 - André Marques
20:40 - Seguidores Roots
21:20 - Bruno Natty
22:00 - Ras Mateus
Terça-feira (04/03)
17:30 - Dj Ras Seles
18:10 - Mukambu
19:50 - Futuro do Reggae
20:40 - Adaiton Poesia Banda MisturAfro
21:30 - Denison Doria - soundsystem
22:10- Jahdson Mc - soundsystem
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