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Diante da baixa representatividade da cultura e da mão de obra negra no Carnaval de Salvador, surgiu o projeto Central Afro do Carnaval, uma iniciativa integrada ao programa Hub Afro Outlet. O objetivo é consolidar um circuito afro dentro da folia, transformando-o em um produto turístico, nos moldes das tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro.
Localizado na Rua do Uruguai, na Península de Itapagipe, o Centro Afro conta com cinco lojas voltadas à comercialização de abadás, roupas e artesanato. Além disso, o espaço oferece uma sala de customização e um ambiente dedicado a desfiles de moda afro. O projeto conta com o apoio da Rede Mundial de Étnico Empreendedorismo (EMUNDE). A proposta visa não apenas fortalecer a economia criativa, mas também preservar as tradições culturais afro-brasileiras.
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Para Roquelina da Silva Neves, de 64 anos, integrante do grupo Costura Solidária Sustentável e responsável pela loja de customização de abadás, a experiência é uma oportunidade inédita. “É o primeiro ano que participo de um projeto assim. Em casa, eu já fazia esse trabalho, mas agora estou em um espaço específico, e está sendo maravilhoso. O Shopping Outlet Center precisava desse ziriguidum”, afirmou. Ela também destacou a expectativa de aumento no movimento com a proximidade do Carnaval. "Tem muita gente vindo, perguntando preço e pedindo informações. Como os abadás ainda estão sendo entregues, acredito que o fluxo de clientes crescerá nos próximos dias".
A coordenadora do Centro Afro e diretora do Shopping Bahia Outlet Center, Rosemma Maluf, ressaltou a importância da estrutura pensada para facilitar a experiência dos foliões. “Montamos as lojas estrategicamente lado a lado para que os clientes encontrem tudo em um só lugar. Aqui, eles podem pegar sua fantasia, ajustar o abadá, escolher adereços e turbantes sem precisar se deslocar para diferentes pontos da cidade”, explicou.
Outra empreendedora beneficiada pela iniciativa é Veronika San’ttana, idealizadora do projeto Africanidade Afromeji, que busca dar voz a crianças vítimas de racismo e pessoas com deficiência. “Essa oportunidade é fundamental para nós, empreendedores negros e periféricos, que muitas vezes não temos espaço no mercado. Cada um aqui tem uma história de resistência e empoderamento”, destacou. Em sua loja, ela comercializa tecidos africanos, turbantes e bijuterias, permitindo que os clientes combinem suas fantasias com acessórios autênticos.

A importância da iniciativa vai além do Carnaval, abrangendo toda uma cadeia produtiva essencial para a economia da cidade. “O Carnaval não é apenas um evento pontual de cinco dias. Ele envolve uma economia criativa robusta, geradora de empregos e renda. No bairro do Uruguai, por exemplo, temos o Condomínio Bahia Textil que abriga 24 indústrias capazes de produzir abadás para blocos afro, fortalecendo ainda mais esse setor”, concluiu Rosemma Maluf.
A inserção de pequenos empreendedores no circuito do Carnaval contribui para a descentralização dos lucros gerados pela festa, garantindo que a riqueza produzida pelo evento não se concentre apenas nas grandes marcas e patrocinadores, mas também chegue às mãos de quem historicamente ajudou a construir a cultura
Para quem deseja customizar seu abadá, o contato pode ser feito pelo telefone (71) 9312-2247. Mais informações sobre as lojas e projetos estão disponíveis no instagram @centralafrodocarnaval