
Se a experiência tem voz, é a de Gerônimo Santana. Pelo menos no quesito Carnaval, afinal, nos seus mais de 50 anos de carreira, ele já viu de tudo na folia momesca de Salvador. Neste domingo (4), o cantor e compositor nascido na Ilha de Bom Jesus dos Passos abre sua agenda carnavalesca, quando vai abrilhantar o Circuito Orlando Tapajós, entre o Clube Espanhol e o Farol da Barra, participando do Furdunço.
Em um bate-papo exclusivo com o Portal Massa!, Gerônimo, de 70 anos, soltou o verbo sobre a folia momesca. Ligado em tudo o que rola na capital baiana, o autor de "É d'Oxum" defende uma expansão ainda maior do Carnaval, em direção aos bairros. Para ele, os artistas "de nome' precisam ser direcionados para locais como Cajazeiras, Nordeste de Amaralina e Pau da Lima, por exemplo.
"O Carnaval da Bahia tem que se expandir para os bairros. Tem que levar também atrações interessantes, principalmente aquelas que o governo banca. Levar artistas de nome, os famosos, afinal de contas, é uma festa do povo e o povo precisa ver isso. O Carnaval se expandindo, lhe garanto que até a mídia vai se deslocar", acredita.
Mídia é o que não falta nos circuitos tradicionais, especialmente no Dodô (Barra-Ondina), que, de 20 anos pra cá, abocanhou as grandes atrações e a maioria dos blocos, estes vindos do Osmar (Campo Grande). Se para toda ação existe uma reação, a mídia, antes focada no Centro da cidade, nos seis dias de folia, pegou a carona e desembarcou em peso na orla.
Emisssoras de rádio, televisão, jornais e portais de internet não pegaram a estrada sozinhos. Os camarotes, antes distribuídos em grande número pelo Campo Grande, Casa D'Italia e tantos outros pontos do Circuito Osmar, também passaram a montar suas estruturas entre a Barra e a Ondina.
"Os camarotes do Carnaval são opções da própria cultura da segregação. O Carnaval, antigamente, era reduzido entre a Rua Chile, Praça Castro Alves, Avenida Carlos Gomes e Avenida Sete. Tinha um outro lugar, que era A Baixa dos Sapateiros e o Pelourinho, onde pessoas mais humildes curtiam. E o camarote continua com essa mesma filosofia: tanto as pessoas de alta renda como as de baixa renda, cada uma faz o seu camarote da maneira que lhe é agradável. Isso faz parte da cultura dessa cidade", opina Gerônimo.

Atravessando gerações
Na semana do Carnaval, se você nunca entoou a frase "já é Carnaval, cidade. Acorda pra ver", peça perdão, porque cometeu um grande pecado contra a música baiana.
Embora muitos acreditem ser este trecho o título da famosa canção, ela chama-se "Lambada da Delícia", que pipocou lá pelos anos 60, agarrada a outro hit: "Eu sou negão". As composições se tronaram verdadeiros hinos do Carnaval, transpassando gerações e executadas até hoje.
"A música quando é boa, ela passa pelos anos. Vem músicas novas, mas as boas, não só as minhas, como as de outros compositores, fazem parte da história do Carnaval. Essas canções talvez sejam a luz no fim do túnel para aquelas pessoas que procuram saber o que é o Carnaval, o que foi o Carnaval no passado, o que é no momento e o que será no futuro", diz Gerônimo.
Para quem quer curtir esses e outros sucessos de Gerônimo, no Furdunço, ele sairá a partir das 21h, do Clube Espanhol. Se programe, afinal estar em um show dele é viver o Carnaval na sua melhor essência.
