“Ao invés de darem alegria como ‘Doutoras da Alegria’, ‘As Muquiranas’ deram bastante dor de cabeça e causaram tristeza no Carnaval de Salvador 2023.” É o que dizem as mulheres que foram vítimas de violências verbais e físicas praticadas por associados do primeiro bloco baiano de homens travestidos, que há 56 anos desfila na folia promovido na capital baiana.
No último dia do maior festa de rua do mundo, na terça-feira (21), as cenas de violência se repetiram em um dos circuitos da folia, reforçando as denúncias das mulheres contra os alguns homens que desfilam no bloco. Imagens de uma mulher sendo atacada com jatos de água e empurrada violentamente várias vezes por homens integrantes das ‘Muquiranas’ durante a passagem do bloco em um dos trechos do Circuito Osmar, no Campo Grande, causaram revolta em milhares de pessoas após o vídeo viralizar nas redes sociais.
Veja o vídeo
As vítimas das “Muquiranas”
Por meio das redes sociais, a publicitária Luciane Reis fez um forte desabafo ao revelar que ela e um grupo de amigas também foram vítimas de violência dos associados do bloco e questionou a permanência das ‘Muquiranas’ na avenida.
“Vivemos a pior experiência do carnaval de salvador. Fomos atacadas por um grupo de homens do bloco ‘as muquiranas’ que não só nos molharam inteiras como nos agrediram verbal e fisicamente. Ao chegarmos no Campo Grande, ficamos presas frente ao bloco e viramos as costas para não sermos atacados, [mas] não adiantou [e] em grupo as agressões começaram. Diante de tantas campanhas por respeito, combate ao assédio às mulheres no carnaval, por que manter um bloco que nos violenta?”, declarou.
Em entrevista exclusiva ao Portal Massa!, outra vítima, que não quis se identificar, relatou que seu pai foi assediado após ele tentar protegê-la das ações violentas de algumas ‘Muquiranas’. “Eu estava acompanhada de meu pai e minha mãe no Campo Grande, quando o bloco das 'Muquiranas' passou. Os caras passavam com as armas de água molhando as pessoas, porém meu pai me protegia e não chegavam até mim. Em uma dessas passagens, eles molharam meu pai e passaram a mão nele dizendo que ele era ‘um gordinho gostoso’”, desabafou revoltada com a falta de respeito.
"Mudanças já"
Em defesa das mulheres violentadas durante o Carnaval de Salvador, a Presidente da Funarte, Maria Marighella pediu para que medidas de combate à violência no bloco “As Muquiranas” sejam adotadas. “O que não cabe mais, precisa ser transformado! Quando a performance pública de um bloco de homens no Carnaval está amparada no vestir-se de mulher para naturalizar o ataque a mulheres, precisamos repensar seus sentidos”, declarou.
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MP-BA pede investigações!
Em nota enviada ao Portal Massa!, o Ministério Público estadual, por meio do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero e em Defesa dos Direitos das Mulheres (Nevid), informou que “instaurou procedimento para apurar os fatos registrados por câmeras de vídeo no circuito do Carnaval e solicitará à Polícia Civil a instauração de inquérito para investigar o caso.”
Em seguida, o órgão ainda pontuou que durante os dias de Carnaval, o Nevid levou aos circuitos da folia a campanha “Não é não!”, realizando ações educativas de orientação e sensibilização dos foliões para prevenção e combate ao crime de importunação sexual. Segundo o balanço final do Carnaval, apresentado pelo Governo do Estado, foram registrados este ano de 2023 seis casos de importunação sexual durante a festa. O número representa uma diminuição de 40% dos casos, se comparado ao último Carnaval no ano de 2020.
Bloco se defende e repudia violência de associados
Por meio de nota, “As Muquiranas” se manifestou contra atos de vandalismos e violências cometido por associados e falou em expulsão do bloco. “Durante os desfiles todos os artistas falaram e defenderam nossas campanhas. No entanto, não podemos controlar o comportamento das pessoas que depredam patrimônio público e nem daqueles que cometem assédio ou quaisquer outros crimes. Não concordamos com nenhum tipo de vandalismo fora e muito menos dentro do bloco, portanto, através das câmeras, iremos identificar os foliões que destruíram o ponto de ônibus e iremos bani-los da nossa rede de associados. Qualquer retaliação a partir daí, também fica a critério das autoridades”, diz trecho da nota.
Manual contra o assédio e importunação desrespeitado
Dias antes do início do Carnaval de Salvador, o bloco “As Muquiranas” divulgou nas redes sociais um manual de combate ao assédio e importunação sexual para os associados que iam desfilar na avenida travestidos com as seguintes frases: "Se a mina disser não, respeite!", "Não importa as roupas, mulheres merecem respeito!" e "Chegou na mina e ela tem namorado? Respeito o casal e curta sua festa de boa!".
Apesar do bloco ter realizado campanhas contra a violência e importunação durante o desfile, alguns associados não respeitaram as orientações e passaram dos limites. Na época, em entrevista exclusiva ao Portal Massa!, Luciano Paganelli, um dos diretores das “Muquiranas”, declarou que o respeito às mulheres e as diversidades são bandeiras levantadas pelo bloco.