A chegada de um novo ano traz consigo uma série de reflexões, sendo uma oportunidade de muitas pessoas repensarem o modo como vivem. Aproveitando desse contexto, o dramaturgo baiano André Luis Silva resolveu lançar o livro All About Lambs, Razors and Dandelions, uma obra que debate temas como o luto, machismo e a convivência familiar tóxica. O lançamento ocorreu em Montreal, no Canadá, lugar onde o escritor vive há 2 anos.
“A vida precisa sempre de um novo começo. A gente está se reinventando a todo momento. Acho que o ano novo sugere isso e a peça traz um pouco disso”, detalhou André em entrevista ao Jornal MASSA!. Além de abordar temas delicados, o autor ainda ressalta que o significado de sua obra pode variar dependendo de quem está lendo. “A mensagem que você absorve do texto é muito pessoal”, destacou.
Nascido em Salvador, o autor passou sua infância no Cabula. Sua relação com o teatro começou ainda no colégio, quando participou do grupo Foco. “Ganhei o maior prêmio de literatura promovido pela escola naquele ano. Esse foi o meu começo no universo das palavras”, relembrou. Depois de concluir o ensino médio, André frequentou a Escola de Teatro da UFBA, e desde então não largou mais sua paixão.
Um dos pontos principais da história de All About Lambs, Razors and Dandelions é como os personagens lidam com a morte. O autor defende a ideia de que as pessoas precisam aprender a viver sozinhas. “É importante a gente não depender da existência de outras pessoas”, defendeu. Para ele, o luto ainda ensina uma importante lição sobre dar valor à vida. “Nos ensina que a vida é limitada, que o nosso tempo aqui é curto”, completou.
O novo lançamento é uma versão em inglês de sua peça teatral Sobre Cordeiros, Navalhas e Dentes-de-Leão, que já está disponível no Brasil. O dramaturgo admite que desejava lançar uma versão bilíngue há algum tempo, mas que não havia tido a oportunidade até então. “Publicar esse livro em duas línguas é uma emoção muito grande. Essa peça em específico recebe muita influência de autores norte-americanos clássicos”, pontuou.
Apesar de morar fixamente no Canadá desde 2022, o escritor cultiva uma longa relação com o local. “Minha irmã veio para cá em 2014 e o país entrou em minha perspectiva por causa dela”, contou. Ele acredita que sua mais recente publicação pode servir como uma ponte entre o mercado brasileiro de literatura e o canandense. "Mais do que isso, é trocar conhecimento e mostrar pro mundo aspectos da arte que a gente promove”, finalizou.
A arte imitando a vida
Assim como em suas obras anteriores, no novo livro André também busca abordar questões que habitam nosso cotidiano. “No fundo, é sempre uma batalha sobre entender quem somos e nosso lugar no mundo”, comentou. O autor explica que mesmo quando se aventura em escrever histórias mais fantasiosas, esse tipo de mensagem é algo do que ele não abre mão. E isso acaba sendo refletido nos seus personagens, que sempre carregam algumas características de seu criador.
“Todos os meus textos são extremamentes pessoais. Existem traços autobiográficos em cada um de meus personagens”, admitiu. Dessa forma, o escritor acredita que suas obras são uma espécie de retrato da sua vida pessoal e um meio dele compartilhar suas experiências. “Eu conto um pouco de minha história e permito que o público interaja, julgue, aprenda e, de certa forma, simpatize”.
Um livro que atinge o coração
Mesmo tocando em assuntos delicados, André considera uma tarefa difícil quebrar certos preconceitos do público. Para ele, a sociedade atual está cada vez mais propícia a se fechar para opiniões divergentes.
“As pessoas vivem imersas em um universo de algoritmos que só entregam aquilo que elas gostam de pensar”, afirmou. Apesar disso, ele confessa que se sente realizado apenas por conseguir alcançar o coração do público. “Eu me satisfaço em saber que, no nível emocional, eu consegui me comunicar com o leitor”, garantiu.
Por fim, o autor também destacou que, por abordar diferentes pautas, o público apresenta diversas reações a sua obra. “É legal ver como ela atinge as pessoas de formas diferentes”, terminou.
*Sob a supervisão do editor Jefferson Domingos
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